quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cultura como Estratégia de Comunicação

 Fui convidado para dar uma palestra sobre o tema: Cultura como estratégia de Comunicação, na PUC de Goiás, na belíssima semana de Comunicação Social.
Acompanhe a apresentação do tema e algumas reflexões a respeito de Comunicação e Cultura.

Colheita de criatividade



Numa das cenas do filme Piratas da Internet[1], a equipe na Microsoft visita a Apple para bisbilhotar o que eles estavam produzindo. Nesta cena, um dos funcionários se sente ameaçado pela presença da Microsoft e pergunta para Steve Jobs: “ – Você tem certeza que irá deixa-los entrar? Eles podem ser uma ameaça!” e Jobs responde em seu estilo peculiar: ”– Nós temos cultura, eles não” (referindo-se à Microsoft)”.


A que tipo de tipo de cultura, o personagem do filme se refere? Cultura é um conceito bastante complexo e assim como a maioria das palavras utilizadas no mundo ocidental moderno deriva do latim. Sua origem vêm de colere que aparentemente significa colher.

Entretanto colere, para qualquer pessoa minimamente iniciada na arte do cultivo (agricultura), vai além de simplesmente colher: envolve a preparação da terra, o plantio, o cuidado, a limpeza, os cuidados com a irrigação, e tempo de crescimento e, por fim, a colheita dos resultados da cultura e seu posterior compartilhamento com os demais membros da sociedade. Mas qual é a relação entre colher e criatividade?

Nos últimos anos empresas estão buscando serem cada vez mais criativas e inovadoras e, dessa forma, buscam profissionais que possuam esse perfil. Entre os profissionais encontrados, aqueles que mais se destacam pelo uso da criatividade são principalmente os artistas e os publicitários. Ambos possuem um estereótipo bem delineado reconhecido popularmente. Por exemplo os publicitários são identificados geralmente por serem descabelados, com barba por fazer, usando camisetas pretas, calças surradas e tênis velho, além de um leve ar de superioridade criativa.

Entretanto, alguns acreditam erroneamente que basta uma aparência cool, e a apresentação de ideias descoladas para fazer sucesso na carreira. É preciso muito mais do que aparência, é preciso conhecimento, repertório e muita cultura.
 
Entretanto, aparentemente hoje qualquer pessoa pode saber tudo, basta ter algum aparelho com conexão à Internet. Essa facilidade de acesso à informação parece que uniformizou a massa de pessoas que tornaram-se simplesmente leitores de dados e, com isso, descartou a necessidade de uma cultura apurada. 

Mas a Internet não é uma rede de conhecimentos, mas uma rede de dados. Quando as pessoas leem esses dados eles passam a ser informação, e quando elas passam a entender, compreender e compartilhar ensinando outros sobre aquilo que apreenderam, isso passa a ser conhecimento e cultura. Logo cultura não é apenas possuir um monte de dados, mas saber relaciona-los, e isso o computador não pode fazer por você.

O que as pessoas precisam hoje é assumir que não sabem tudo e buscar o aprendizado, entretanto, com a disponibilidade de dados tão acessível à mão, parece que aquilo que não se sabe pode tornar-se parte de nosso conhecimento em poucos instantes em sites de busca. É nesse pensamento que mora o equívoco: os dados não podem ser inseridos no conhecimento individual via USB, ou Bluetooth. É preciso que cada informação seja acessada, processada e digerida pacientemente, e como a Internet pode ser vista como um mar de informação rápida, essa experiência de aprendizado  pode ser bastante estressante. Como destaca o filósofo e poeta americano Ralph Waldo Emerson “Quando patinamos no gelo fino nossa segurança está na velocidade.”

 “A mais rica biblioteca, quando desorganizada, não é tão proveitosa quanto uma bastante modesta, mas bem ordenada. Da mesma forma, uma grande quantidade de conhecimento, quando não elaborada por um conhecimento próprio, tem muito menos valor do que uma quantidade bem mais limitada, que no entanto, foi devidamente assimilada.” (Schopenhauer, 2007)

Com isso é importante que os novos profissionais não se preocupem em tentar saber tudo, o que é necessário é querer aprender tudo. Dessa forma, toda vez que se depara com um novo anunciante, um novo briefing e um novo problema, há duas linhas de pesquisa principais para trilhar: (1) pesquisar mais sobre a área de atuação de seu anunciante: o comportamento de seus consumidores e, por outro lado, (2) aproveitar a oportunidade para tentar conhecer um pouco mais sobre uma área que não domina totalmente dentro da publicidade e da comunicação.

Mas não se esqueça, para uma boa colheita é preciso tempo e experiência.


[1] Título Original: Pirates of Silicon Valley (1999). Dirigido por Martyn Burke