Numa das cenas do filme Piratas da Internet[1],
a equipe na Microsoft visita a Apple para bisbilhotar o que eles estavam
produzindo. Nesta cena, um dos funcionários se sente ameaçado pela presença da
Microsoft e pergunta para Steve Jobs: “ – Você tem certeza que irá deixa-los
entrar? Eles podem ser uma ameaça!” e Jobs responde em seu estilo peculiar: ”–
Nós temos cultura, eles não” (referindo-se à Microsoft)”.
A que tipo de tipo de cultura, o
personagem do filme se refere? Cultura é um conceito bastante complexo e assim como a maioria
das palavras utilizadas no mundo ocidental moderno deriva do latim. Sua origem
vêm de colere que aparentemente significa colher.
Entretanto colere, para qualquer pessoa minimamente iniciada na arte do
cultivo (agricultura), vai além de simplesmente colher: envolve a preparação da
terra, o plantio, o cuidado, a limpeza, os cuidados com a irrigação, e tempo de
crescimento e, por fim, a colheita dos resultados da cultura e seu posterior
compartilhamento com os demais membros da sociedade. Mas qual é a relação entre
colher e criatividade?
Nos últimos anos empresas estão
buscando serem cada vez mais criativas e inovadoras e, dessa forma, buscam
profissionais que possuam esse perfil. Entre os profissionais encontrados,
aqueles que mais se destacam pelo uso da criatividade são principalmente os
artistas e os publicitários. Ambos possuem um estereótipo bem delineado
reconhecido popularmente. Por exemplo os publicitários são identificados
geralmente por serem descabelados, com barba por fazer, usando camisetas
pretas, calças surradas e tênis velho, além de um leve ar de superioridade
criativa.
Entretanto, alguns acreditam
erroneamente que basta uma aparência cool,
e a apresentação de ideias descoladas para fazer sucesso na carreira. É preciso
muito mais do que aparência, é preciso conhecimento, repertório e muita
cultura.
Entretanto, aparentemente hoje qualquer pessoa pode saber tudo,
basta ter algum aparelho com conexão à Internet. Essa facilidade de acesso à informação parece que uniformizou a massa de
pessoas que tornaram-se simplesmente leitores de dados e, com isso, descartou a
necessidade de uma cultura apurada.
Mas a Internet não é uma rede de
conhecimentos, mas uma rede de dados. Quando as pessoas leem esses dados eles
passam a ser informação, e quando elas passam a entender, compreender e
compartilhar ensinando outros sobre aquilo que apreenderam, isso passa a ser
conhecimento e cultura. Logo cultura não é apenas possuir um monte de dados,
mas saber relaciona-los, e isso o computador não pode fazer por você.
O que as pessoas precisam hoje é
assumir que não sabem tudo e buscar o aprendizado, entretanto, com a
disponibilidade de dados tão acessível à mão, parece que aquilo que não se sabe
pode tornar-se parte de nosso conhecimento em poucos instantes em sites de
busca. É nesse pensamento que mora o equívoco: os dados não podem ser inseridos
no conhecimento individual via USB, ou Bluetooth. É preciso que cada informação
seja acessada, processada e digerida pacientemente, e como a Internet pode ser
vista como um mar de informação rápida, essa experiência de aprendizado pode ser bastante estressante. Como destaca o
filósofo e poeta americano Ralph Waldo Emerson “Quando patinamos no gelo fino
nossa segurança está na velocidade.”
“A mais rica biblioteca, quando desorganizada,
não é tão proveitosa quanto uma bastante modesta, mas bem ordenada. Da mesma
forma, uma grande quantidade de conhecimento, quando não elaborada por um
conhecimento próprio, tem muito menos valor do que uma quantidade bem mais
limitada, que no entanto, foi devidamente assimilada.” (Schopenhauer, 2007)
Com isso é importante que os novos
profissionais não se preocupem em tentar saber tudo, o que é necessário é
querer aprender tudo. Dessa forma, toda vez que se depara com um novo
anunciante, um novo briefing e um
novo problema, há duas linhas de pesquisa principais para trilhar: (1) pesquisar
mais sobre a área de atuação de seu anunciante: o comportamento de seus
consumidores e, por outro lado, (2) aproveitar a oportunidade para tentar
conhecer um pouco mais sobre uma área que não domina totalmente dentro da
publicidade e da comunicação.
Mas não se esqueça, para uma boa
colheita é preciso tempo e experiência.
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